quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Que seja



Que seja intenso como sol,
e claro como céu e noite estrelada.
Que nos precipícios da vida,
sejam duas mãos firmes.


Que quando meus olhos se assemelharem
a um quadro psicodélico borrado por maquiagem,
esteticamente inaceitável,
eu possa sentir suas mãos em meu rosto.


Que seja real, e mantenha-se límpido.
Que ao tirar-me os pés do chão,
faça-me voar longe, pensar alto e rir sozinha.
Que leve-me de volta aos dez anos de idade,
que pareça-me ter vivido muito mais que vinte e cinco.


Que nada nem ninguém eternize,
que  haja respeito em cada deslize,
que não se espere, não se desespere,
Não se remoa, não se remova.


Que não seja preciso falar demais
para se dizer o que ninguém deveria ouvir,
Que seja porto, que seja fuga, ou seja lá o que for,
Que seja confiança.


E que no fim, sempre certo fim,
que não se pareça um pedaço do corpo arrancado.
Que seja leve e possa espalhar-se suavemente no ar,
como as pétalas de um dente de leão, 
após o sopro de uma criança.


Amém.

sábado, 1 de maio de 2010

A Carta



Caríssima,


Sei de teus anseios, de tuas virtudes e vícios. Sois complexa, e imagino como deve ser viver entre estes extremos de amar o singelo e jamais se contentar com pouco. Além disto, sois extremamente individualista e não lhe faltam argumentos para defender suas metas, estas que não gostas de chamar de sonhos. Faço o que posso para que não entremos em conflito, e não tens me decepcionado. Vejo como me segue fielmente, mesmo quando todos estão duvidosos de nossa razão.


As vezes sussurro uma música que fica o dia inteiro flutuando como uma pluma em teu dia, outras lhe mostro o quanto amais algumas pessoas que se fazem presentes. Choras, sentes arrepios e eu observo. Sensibiliza-se ao ouvir o nome de tua mãe, ou ao ver uma criança sorrindo. Mas conservas esta postura de insensível perante a maior parte de seu convívio. Afastas de ti toda e qualquer ameaça a esta tal liberdade, esta que nunca sabemos como encontrar, e o que faremos com ela posteriormente. Tudo é desafio para ti. Mas tua saudade transborda, e juntas, eu e tu, buscamos compreender de onde ela vem, a que se direciona.


Proponho que pense a respeito disso, desta saudade. Teu individualismo me faz pensar que sentes falta desta que foste, desta que serás. E vou mais além: Sentes saudades do que és. Por que sois tão intensa que precisas ser ainda mais livre,sempre, abrindo espaços ao seu redor para manifestar toda a sua natureza.


Desta que lhe acompanha em cumplicidade,


Tua Consciência.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reflexão Psicodélica - Aleatórias Sensações






Às vezes, ao abrir esta página, me deparo com expressões que são minhas, mas que não sei interpretar.  Observo que escrevo quando algo não está bem, como se tentasse guardar em mim a fortaleza, e despejar aqui as fraquezas que palpitam e latejam na minha alma. As palavras as vezes me soam repetitivas, embora eu saiba que o que eu sentia não era bem o que escrevi. Existem coisas que se perdem, que ultrapassam limites de compreensão, e acabamos por ver aquilo que queremos para de alguma forma nos abrigarmos em entrelinhas. São sentimentos, situações, ações e reações que brotam com tal firmeza, acontecendo tão rapidamente que pouco consegue-se usufruir destes. A forma como tudo aparece e desaparece na minha vida - em mim - chega a me assustar. Nascem, crescem com intensidade, dançam ao som de um suspiro e estremecem diante de minha visão enquanto minhas pernas parecem perder o foco da sua função de sustentar meu corpo. E o suspiro que eu pensava ser de expectativa deixa um doce e amargo sabor de adeus. Estranhamente, tudo se vai. Não deveríamos nos sentir assim, já que estas são apenas mais algumas sensações, como outras que se foram, e ainda virão... Queremos que tudo seja eterno, mas que seja da mesma forma como foi no momento do auge, do esplendor.


Não entendo esta reencarnação que as pessoas teimam em criar para o que está morto. Sequer posso compreender como são impostos nomes aos sentimentos e sensações. Amor, paixão ou até mesmo... dor.
Somos todos tão diferentes, são tantas as intensidades, as maneiras de sentir, então por que criar paradigmas até mesmo ao abstrato que nos compõe? Por que não vivenciar novas emoções ao invés de nos deitarmos sobre o túmulo, lamentando aquilo que sequer nos faz falta? Qual o nome se dá a essa estranha sensação de querer o impossível, sabendo que se o possuíssemos tentaríamos mudá-lo? Esta dor parece ser necessária à nossa sobrevivência.

Esta semana alguém me disse:
"- A dor é a fraqueza saindo do corpo."

Imediatamente penso em outra, como se estivessem interligadas - ainda que pela dor- de certa forma paradoxalmente:

Essa morte constante das coisas é o que mais dói.
Dói quando não se habitua, dói quando se acomoda a vê-las morrerem e nota-se que isso já não tem mais importância.E talvez, quem sabe? Doeriam também se permanecessem vivas.

E quando não é o corpo que dói?   Talvez tenha o mesmo sentido, ou não.

A questão, é que esta dor leve, que sopra aos meus ouvidos quase imperceptivelmente, traz a sensação de fragilidade, impulsiona a busca por algo intenso, que se relacione à grandeza.  E penso alto por alguns segundos:

- Meu coração está vazio.

Pareço cálida, ácida. E ao mesmo tempo, um sentimento lírico, urgente, reverente à vida.
Sentimento este que não sei nomear.